quarta-feira, 8 de abril de 2009

356 - PORTUÁRIO ENSINA JOGO DE XADREZ PARA CRIANÇAS DE SÃO VICENTE-SP

Faça chuva ou sol, a rotina do portuário Roberto de Melo aos sábados é sempre a mesma: acordar cedo no dia de folga, pular da cama e correr para a Escola Municipal Mário Covas, em São Vicente (SP). Lá, as crianças participam do projeto ’’Eu Jogo Xadrez’’, desenvolvido pelo próprio Roberto em parceria com o idealizador do programa, o professor de Geografia Clayton Diógenes. Tamanha garra e vontade de ajudar ao próximo fazem deste portuário um exemplo na comunidade em que vive, tornando-o digno de ocupar o posto de Voluntário do Mês do PortoGente.
Roberto explica que os objetivos do ’’Eu Jogo Xadrez’’ são desenvolver a criatividade e imaginação das crianças, além de elevar a auto-estima dos meninos e meninas e estimular o pensamento lógico, a autoconsciência e fluidez de raciocínio. Com tudo isso em prática, os garotos de Roberto fizeram a Escola Mário Covas ser duas vezes campeã de etapas do Circuito Santista de Xadrez Escolar, trouxeram à entidade cerca de 60 medalhas e 15 troféus só no ano passado e transformaram a vida de um menino, Guilherme Araújo, campeão brasileiro de xadrez escolar em 2008.
“Sempre gostei de xadrez e soube por um sobrinho que a Escola Mário Covas tinha um projeto envolvendo o esporte. Procurei o professor Clayton e disse que gostaria de ajudá-lo. Desde 2007 nunca mais se desfez essa parceria. Felizmente, a demanda vem aumentando e passamos a aproveitar os alunos mais experientes na monitoria de quem está querendo aprender. Damos aulas gratuitas de xadrez para crianças de 6 a 15 anos, sempre aos sábados, das 10 às 11h30. Conseguimos até trazer um torneio para a área continental de São Vicente”.
A empolgação deste portuário que trabalha diariamente em Cubatão se justifica. No ano passado, ele conseguiu levar cinco alunos do projeto ’’Eu Jogo Xadrez’’ para a cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais. E apesar dos parcos recursos, um dos meninos, Guilherme Araújo, conquistou o título brasileiro entre os alunos de 1ª série de todo o País. Para os que não entendem a graça do xadrez nem mesmo conseguem considerar a prática como um esporte, o portuário carrega na ponta da língua as explicações.
“O xadrez é mais que um esporte e seus amantes sabem que não estou mentindo. Tem gente que acha que só os chamados nerds têm paciência para o tabuleiro e o desenvolvimento do nosso projeto em uma região periférica de São Vicente derruba com classe este mito. A escola é o melhor polo para a difusão do xadrez e por meio dela outros tabus serão quebrados. Sabemos que, no Brasil, somente o futebol é valorizado. Mas a evolução que nossos alunos tiveram nos últimos meses foi fantástica. O esporte desenvolve estratégia e disciplina. É uma grande terapia”.
Crianças e adolescentes comemoram a oportunidade de aprender xadrez e mostram os títulos que já conquistaram
Aos 26 anos, Roberto de Melo ainda está solteiro, mas garante querer se casar e ter filhos. Mas enquanto o casamento não vem, aproveita o tempo para se dedicar ao trabalho voluntário, ensinando xadrez sem receber nada por isso. Formado em Tecnologia em Gestão de Logística Empresarial, ele não reclama da falta de tempo e prefere enfrentar o desafio. Como auxiliar administrativo de exportação da Gafor Logística, trabalha oito horas por dia em Cubatão. O tempo é escasso, mas ele garante dar um jeito para fazer o que gosta: ajudar ao próximo.
“É difícil até comentar, mas mesmo sem remuneração alguma, o prazer de ensinar xadrez é inquestionável. Ver nos olhos daquelas crianças a felicidade por se sentirem capazes de enfrentar os obstáculos de igual para igual com os demais me enche de orgulho. Nos torneios enfrentamos alunos de escolas particulares ou, ainda, filhos de mestres e mesmo assim a competição é em alto nível. Fazemos rifas para ir e vir das competições, as dificuldades são muitas, porém propiciar alegria às crianças não tem preço e agradeço a Deus por fazer parte disso”.
Quem quiser ajudar Roberto e Clayton pode doar tabuleiros e jogos. Muitas vezes eles não têm equipamentos básicos para os treinos, como relógios nas mesas. As ajudas podem ser feitas por meio dos telefones (13) 9707-4811 e (13) 3566-1636, ambos de Roberto, e (13) 9736-4553, de Clayton.

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