A idéia de que “o xadrez não interessa aos patrocinadores” é uma dessas mentiras que, de tanto se ouvir repetir de quem justifica assim o não saber fazer seu trabalho, acabamos por acreditar. Gravou-se em nossa mente e minou o entusiasmo por empreender atividades, por procurar novos horizontes para o jogo-ciência.Vamos fazer uma diferenciação muito importante entre duas coisas que, conquanto estejam relacionadas, algumas vezes se confundem. É verdade que o xadrez não é um esporte de massas, e nunca o será, por sua natureza intrínseca: Conhecê-lo e dominar seus fundamentos requer um esforço de vontade que é cada vez menos comum na sociedade em que vivemos. Mas o xadrez tem, sim, uma imagem, representa alguns valores que resultam em um conjunto interessantíssimo para qualquer empresa disposta a respaldá-lo.
E isso para não falar das instituições públicas. Nos últimos anos, tive oportunidade de ir a várias feiras empresariais. Uma das mais importantes das celebradas em nosso país (Espanha), Expomanagement, é destinada a executivos de importantes multinacionais. Na primeira ocasião em que a visitei, chamou-me poderosamente a atenção a grande presença de stands, cartazes e folhetos (cheguei a contar 23 ao todo) de empresas que utilizavam a imagem do xadrez como publicidade, em todos os casos incidindo nesses valores a que fazia alusão: o pensamento estratégico, a inteligência, as decisões bem meditadas, o eficiente planejamento.No ano seguinte, foi preciso somente um pouco de iniciativa de minha parte para organizar uma pequena exibição de partidas simultâneas nessa mesma feira, no stand de Amena, que contou com a participação do Grande Mestre Pablo San Segundo. “Amena sabe qual é tua melhor jogada”, foi o repetitivo slogan. Foi algo simples, mas teve tanto sucesso e reuniu curiosos no recinto, que duas empresas do mesmo ramo (telefonia) contataram-me nos meses seguintes para me propor ações similares, e os próprios organizadores de Expomanagement contrataram Garry Kasparov como conferencista para sua seguinte edição. A semente tinha sido plantada.
O xadrez dava-lhes boa imagem, a um preço irrisório para os orçamentos que manejam habitualmente.O potencial está aí, sempre tem estado, e somos uns cegos por não ver que o temos diante dos olhos. Até onde poderíamos chegar se, em vez de entusiastas particulares mais ou menos capacitados, fosse uma agência de comunicação e imagem quem canalizasse esse potencial, quem explorasse de forma profissional as possibilidades que oferece o xadrez? Em poucas ocasiões foi dado esse passo, porque os diretores, associações de jogadores e enxadristas super-estrelas sempre quiseram “conduzir tudo”, sem se darem conta de que se movem em um terreno – o da comunicação - que não é precisamente o seu.Há alguns meses, conheci em Vitória o candidato à FEDA, Amador González, que teve a deferência de interessar-se por minhas sugestões a respeito de como aperfeiçoar o desolado panorama que apresenta o xadrez nacional: um problema que, aparentemente, lhe preocupa bem mais do que àqueles que estão no cargo atualmente. Inclusive me propôs a possibilidade de entrar em sua candidatura como chefe de imprensa, ou que lhe sugerisse ao menos uma pessoa indicada para o posto.Tentei demovê-lo da idéia do “chefe de imprensa permanente”, que, embora seja verdadeiro que nunca tivemos um, não é menos verdade que se converteu numa figura já um tanto obsoleta. “Uma agência de comunicação pode realizar esta tarefa, emitindo notas de imprensa quando sejam necessários: campeonatos da Espanha, grandes torneios, acontecimentos infantis…”, expliquei-lhe. “Mas, além disso, eles saberão onde incidir para vender o xadrez, não só aos meios, mas também aos potenciais patrocinadores e às instituições. É um serviço global e profissional”, insisti. Para não mencionar uma possibilidade não menos importante: as agências de comunicação planificam as campanhas de publicidade de muitas empresas, e sem dúvida poderiam encontrar entre sua carteira de clientes algum a quem poderiam sugerir associar sua imagem ao xadrez. Creio que os argumentos lhe convenceram, porque me pediu permissão para incluir a idéia em seu programa.Em resumo: não nos menosprezemos nem sub-valorizemos as possibilidades que tem nosso esporte. O xadrez atrai, sim, patrocinadores: o que os afasta são os ineptos que muitas vezes gerenciam o xadrez.
[Escrito em San Sebastián, 13 de fevereiro de 2008; publicado na revista Jaque nº 619 correspondente a Março de 2008]. Revista Jauqe:http://www.jaque.tv/index-jaque.htm
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