quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

58 - O XADREZ E A EDUCAÇÃO








"O ensino do xadrez ministrado em crianças, adolescentes e jovens, tem sido bastante proveitoso, pois os tornam mais pensantes e reflexivos"
Celso Renato








O Xadrez e a Educação

Ana Cristina von Calmbach

O processo educacional vem sendo questionado e submetido a transformações em decorrência das novas descobertas que ocorrem nas ciências humanas, biológicas e sociais. A preocupação atual dos educadores é não somente transmitir conteúdos, mas criar condições para que se desenvolva no educando a autonomia, o pensamento crítico e criador, a iniciativa e a capacidade de resolver os problemas com que poderá se confrontar na vida cotidiana. Ciências modernas, como a Heurística, a Cibernética e a Praxiologia, vêm experimentando novos métodos para a resolução de problemas de alta complexidade. Neste particular, um dos instrumentos mais utilizados é o jogo de xadrez, que tem servido para desenvolver "máquinas pensantes" mais potentes e programas de maior eficiência. Uma pergunta surge naturalmente: Se o xadrez é bom para ensinar as máquinas, a "pensar", porque não incluí-lo diretamente no processo pedagógico que visa ensinar as crianças a pensar? Pedagogos vêm tentando introduzir a disciplina de Filosofia no ensino fundamental. Não será mais útil ensinar Lógica com o auxílio dos instrumentos empregados na resolução dos problemas apresentados pelo xadrez? Por que não incorporar o seu ensino ao currículo, como matéria regular, com a finalidade de aprimorar a capacidade de raciocínio e contribuir para o aprendizado das matérias de cunho científico ou cultural? O xadrez escolar é o que tem propostas pedagógicas. Não visa a ensinar a conduzir uma partida ou ganhar medalhas em competições de caráter esportivo. É uma matéria que ensina as técnicas de resolver problemas de grande complexidade, utilizando como instrumento auxiliar os problemas típicos do jogo de xadrez. Aproxima-se do que modernamente se conhece como Heurística, ou seja, a ciência do pensamento criador. Além disso, experiências internacionais demonstram que o aprendizado e prática do xadrez desenvolvem várias habilidades indispensáveis à plena realização do individuo como membro da comunidade, habilidades essas que são uma das finalidades do processo educacional moderno.Torna-se necessário, todavia, desconstruir a aura que envolve o xadrez como um simples jogo e enfatizar o fato de que, usado como instrumento de educação, o xadrez estimula na criança o aparecimento de diversas características que influenciam o comportamento em geral, o que muito contribui para diminuir a violência escolar, construir o caráter e desenvolver atitudes favoráveis ao convívio social - entre as quais, a atitude de compartilhar o seu pensamento, o seu raciocínio, suas opiniões e idéias com os companheiros. Nas situações de aprendizagem do xadrez a criança aprende a organizar seu pensamento verbalmente. O "problema" adquire um sentido importante, quando as crianças buscam soluções e discutem-nas com as outras crianças. É um fato comprovado na prática que todas as crianças adoram jogar. O jogo é o mais motivador instrumento do repertório de um bom professor, sendo que os jogos que apresentam as caraterísticas ideais para seu uso como recurso didático são os jogos de regras. O xadrez, em particular, motiva as crianças a se tornarem solucionadoras de problemas e a empregar grande parte de seu tempo jogando sossegadamente. Crianças que normalmente não ficariam 15 minutos quietas, em uma sala de aula do tipo tradicional, são capazes de se manter entretidas durante horas imersas em raciocínio lógico O xadrez, por suas características, desenvolve a capacidade de o jogador ponderar, analisar e decidir cada lance, refreando, assim, os atos impulsivos Desta forma, constantemente, o jogador é obrigado a praticar a tomada de decisões que serão fundamentais para o êxito na partida, ensinando a criança a investigar, a prever e a planejar cada lance. O xadrez proporciona uma grande variedade de problemas de diversas qualidades. O contexto é familiar, os temas se repetem mas as condições são específicas a cada situação. Desta forma o xadrez é um grande manancial estimulador da pesquisa e do conhecimento e se encaixa perfeitamente na concepção piagetiana a respeito dos jogos, por ser um jogo de regras, e, como tal, englobar características dos jogos de exercício e dos jogos simbólicos. Vygotsky e os cientistas da escola russa, ao proporem a introdução do jogo nas escolas, mostram quais são as características principais que os jogos devem possuir para serem bons recursos didáticos. Para eles o jogo ideal a ser usado como auxiliar pedagógico deve ser definido pelos seguintes critérios:
1) aos objetos utilizados devem ser conferidos significados diferentes do que normalmente eles possuem;2) a situação deve ser imaginária; 3) os participantes realizam ações que representem interações presentes na sociedade em que vivem; 4) as regras que orientam o jogo devem ser respeitadas.
O jogo de xadrez é um jogo completo, pois se encaixa perfeitamente nesses moldes colocados por Vygotsky para o jogo ideal, porque:
1) Confere significados diferentes aos objetos utilizados:
O xadrez é jogado em um tabuleiro de 64 casas de cores alternadas que representa um campo de batalha onde dois "exércitos" deverão se defrontar. As peças constituintes do jogo representam reis, rainhas, cavalos, bispos, peões e torres.
2) Oferece uma situação imaginária:
A situação é a de uma guerra onde o objetivo é a captura do Rei adversário.
3) As ações são representativas da sociedade:
As ações consistem em aumentar o auxílio mútuo entre suas peças e diminuir o poder das peças do adversário. Trata-se de uma competição onde poderão ser enfatizados os aspectos da cooperação e da organização. A situação, embora imaginária, poderá, de acordo com o tipo de orientação do professor, ser deslocada para exemplificar situações vividas nas experiências comuns da vida cotidiana.
4) Exige o respeito às regras:
Cada jogador tem que esperar sua vez de jogar e cada peça possui um tipo de movimento diferente, cuja obediência é necessária para que o jogo possa se realizar.
Só por isso, o xadrez já se qualifica como um precioso coadjuvante escolar, uma vez que os conhecimentos adquiridos ao estudar e aplicar as regras do jogo podem ser transferidos para o estudo e análise das situações concretas da vida cotidiana. O xadrez não é, em si, um instrumento de educação formal, mas se tomarmos as peculiaridades deste jogo e as projetarmos, uma a uma, ao campo educativo, constata-se que suas características se convertem em outras tantas funções educativas. Tenha-se em conta que o xadrez cria hábitos de estudo, estimula a atitude de proceder com método e fomenta o desejo de superação mediante o conhecimento. Parece não restar dúvida tratar-se de um poderoso auxiliar pedagógico que catalisa várias disciplinas e desenvolve nos alunos o raciocínio lógico e o pensamento criador. Estimula a autonomia de pensamento e coaduna-se perfeitamente com as propostas da educação com o auxílio de jogos. ==//==Brevemente, divulgaremos outros trabalhos alusivos ao Xadrez Escolar.


fonte devidamente autorizada pelo Prof. Sylvio Rezende: http://www.apetx.org.br/

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